Maturidade

O que te domina?

Uma reflexão sobre personalidade x temperamento

Todos podemos amadurecer nossa personalidade. Podemos mudar de camada.
Todos podemos amadurecer nossa personalidade. Podemos mudar de camada. |  Foto: Divulgação / Pexels / Thiago Matos
 

Pode ser um vício, uma relação doentia, um grupo, uma ideia fixa. Pode ser seguir a maioria, a moda, o comportamento alheio, as tendências da atualidade. De qualquer modo, algo ou alguém pode influenciar sua capacidade de escolha e decisão, se você não for maduro o suficiente para dizer o que deseja.

Eu falo tanto de maturidade... o que seria isso? Para podermos entender o que é ser uma pessoa com a personalidade amadurecida, precisamos compreender o que são os estágios, as camadas que a personalidade pode ter, ao longo da nossa vida. Essa teoria foi desenvolvida pelo professor Olavo de Carvalho, e traz respostas concretas para as nossas inúmeras perguntas, acerca do tema.

Temperamento x Personalidade

As personalidades são como camadas de um cebola
As personalidades são como camadas de um cebola |  Foto: Divulgação
 

Primeiramente, precisamos distinguir temperamento de personalidade. O temperamento é um elemento mineral, natural, da composição de cada indivíduo. Nasce e morre com ele, e é IMUTÁVEL. Você pode ser calmo ou explosivo, lento ou ágil, sociável ou introvertido, alegre ou triste, e isso é a sua composição. Sabendo o seu temperamento, você pode amenizar características que te desagradam, mas jamais modificá-lo.

A personalidade é algo diferente. Você nasce com características genéticas, hereditárias, com uma história familiar, e isso integra a sua personalidade. A partir daí, a forma como você vai desenvolvê-la, tornando-se uma pessoa mais madura, depende de sua percepção e de suas atitudes concretas no mundo.

Precisamos entender a personalidade como uma cebola, com suas camadas. As duas primeiras camadas da personalidade humana estão presentes em todos nós. São as características herdadas, é a genética e o impacto que a família tem sobre o novo indivíduo. A partir da terceira camada, você se percebe como indivíduo, aquele bebê que começa a notar o mundo ao seu redor, entendendo que não faz mais parte da sua mãe, observando seus movimentos e atitudes, ocupando efetivamente um espaço no real.

Chegamos então, à quarta camada, a que leva as pessoas aos divãs dos psicanalistas, a que faz com que procuremos culpados para tudo, com que nos vitimizemos, com que queiramos nos sentir aceitos e amados por todos, e não consigamos lidar com a vida como ela é, sem frustração e ressentimento. Essa é a idade das crianças, mas, infelizmente- e principalmente aqui no Brasil, um país de ressentidos - grande parte das pessoas adultas estaciona nesta, para nunca mais sair.

O grande desafio do indivíduo é abandonar a quarta camada da personalidade. Assumir todas as suas responsabilidades, perante si mesmo e os outros. Não culpar os pais, o ex namorado, o coleguinha da escola ou do trabalho, não invejar a vida do outro, não sentir-se injustiçado, achando que merecia algo muito melhor.

Zona de conforto

Porque esse comportamento estimula a inércia, o não amadurecimento, a procura por zonas de conforto e estratégias que nos permitam ficar ali, sem nos modificarmos internamente ( porque isso dói, dá trabalho e exige coragem).

E aí entra o título do meu artigo: o que te domina? O que te mantém na quarta camada, na infantilidade do joguinho de culpas e mágoas? É um grupo de pessoas parecidas com você, onde esse comportamento se retroalimenta, ou no qual você faz qualquer coisa, inclusive prostituir suas opiniões, para ser aceito?
 

É um parceiro mal resolvido e que não te inspira a ser melhor, e com o qual você joga seus dias fora com brigas, ciúmes, perseguições, desrespeito? É o vício em redes sociais, comparando, a todo tempo, a sua vida com a vida (imaginária) das outras pessoas?

Também pode ser um relacionamento familiar repleto de acusações, no qual você culpa seus pais, seus irmãos, filhos, sei lá quem, por tudo que deu errado, em sua trajetória. Uma amizade que te influencia para coisas ruins, algum vício, uma obsessão ou compulsão...

Podem ser muitas coisas, o rol é quase inesgotável. Mas, em toda pessoa que está aprisionada na quarta camada da personalidade, há dois comportamentos-padrão bem fáceis de se observar: o ressentimento e a vitimização. E, somente quando conseguir abandonar essas reações, o indivíduo galgará um degrau, em direção à próxima camada.

A quinta camada é a da autoafirmação, típica da adolescência: correr riscos, testar limites, buscar desafios e dificuldades a superar, ser competitivo e destemido. Uma vez que a pessoa adulta consiga passar da quarta camada, terá momentos de produtividade e realização, novidades, aventura e emoção, típicos dessa camada. Quererá disputar o primeiro lugar e afirmar-se como líder.

A sexta camada é a das responsabilidades. Assume-se um emprego, cria-se vínculo afetivo com alguém, passa-se a ter um salário, despesas, obrigações. Muita gente não entende como o indivíduo pode conseguir chegar a essas realizações, mantendo-se na quarta camada. Eu posso explicar:

Pode ser que a pessoa vá se conduzindo na vida, se forme, passe em um concurso, arranje uma colocação profissional, vá trabalhar nos negócios da família, sem que, contudo, tenha trabalhado sua personalidade. Sua postura, quando cobrada ou questionada, será sempre de vitimização, ressentimento ou culpabilização dos outros, e isso é terrível na convivência familiar, pessoal, profissional ou com os filhos.

Essa pessoa, portanto, estará instalada na sexta camada, com comportamento e amadurecimento, entretanto, de quarta camada. O que significa que não consegue cumprir de modo satisfatório suas obrigações, abraçar suas responsabilidades, evoluir.

Insegurança

Do mesmo modo, vemos muitos adultos que não saem da quinta camada. São pessoas que traem seus parceiros por autoafirmação, disputam na vida profissional o primeiro lugar o tempo todo, querem ser melhores em tudo, ter bens para ostentação, porque mantêm-se na camada em que precisam provar algo o tempo todo.

Uma boa notícia é que, uma vez que se tenha conseguido abandonar a quarta camada da personalidade, que nos engessa e impede de amadurecer, a conquista das próximas é relativamente rápida, até que se chegue mais ou menos à sétima.

Legado

A sétima camada traz a pessoa para interações na comunidade, realização de trabalho voluntário, assunção de um papel social. Você devolve à sociedade o que recebeu, até aqui. A oitava é a descoberta de que tem um papel no mundo, deve deixar um legado, uma marca única e pessoal. Impactar vidas, cumprir uma missão, custe o que custar.

A nona camada da personalidade é a descoberta da intelectualidade, a busca da verdade, a dedicação a ideais mais elevados e a desvendar os mistérios do universo. A partir desta camada, a décima e a décima primeira complementam-se, e tratam de grandes personalidades da História ( para o bem ou para o mal), que utilizaram-se de sua personalidade marcante e evoluída para, efetivamente, impactarem o mundo com a sua passagem.

Espiritualidade

A décima segunda camada é dedicada aos grandes santos, os homens que encontraram, na espiritualidade, todas as respostas, e dedicaram sua vida a isso.

Todos podemos amadurecer nossa personalidade. Podemos mudar de camada. Também podemos perceber características muito nocivas de camadas anteriores, que ainda carregamos, as quais devem ser trabalhadas e superadas. Nenhum adulto maduro pode estar preso a grupos, opiniões alheias, relações destrutivas, vícios, compulsões e más tendências, sob pena de jamais poder realizar seu potencial e sua missão, nessa vida.

O entendimento das camadas da personalidade, juntamente com o estudo dos quatro temperamentos humanos, é, portanto, ferramenta imprescindível, para que possamos evoluir e realizar o que se espera de nós, encontrando felicidade nesta jornada.

A maior força que existe é a personalidade” Goethe,
 

Erika Figueiredo - Filosofia de Vida

Erika Figueiredo - Filosofia de Vida

A niteroiense Erika Rocha Figueiredo é escritora, professora e promotora de justiça

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